segunda-feira, 2 de maio de 2016

Dieta vegetariana causa mudanças genéticas de longo prazo

Pesquisadores de universidade americana encontram evidências de uma variação genética em regiões de Índia e África, com histórico de dieta baseada em vegetais.


Um novo estudo publicado por cientistas da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, identificou que as culturas que aderiram durante muitas gerações a uma dieta estritamente vegetariana apresentam em uma frequência elevada uma alteração genética que está associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares e câncer de cólon.

A dieta vegetariana ou a vegana têm cada vez mais um grande número de adeptos, que buscam uma vida saudável e sustentável. Diversos estudos apontam que esse tipo de dieta pode ser uma opção interessante para quem quer emagrecer e evitar doenças. 

Hoje, com o nível de conhecimento que há em nutrição é possível seguir esse tipo de dieta e realizar as devidas suplementações de nutrientes importantes que são obtidos apenas em alimentos de origem animal. 

Os ácidos graxos são essenciais para a produção de lipídeos e possuem um papel muito importante em como a energia é armazenada e exerce suas funções celulares. Hoje se sabe que o corpo humano é capaz de produzir grande parte dos ácidos graxos que necessita, mais existem dois fundamentais, o ômega 3 e ômega 6, que não podem ser produzidos. Esses nutrientes são encontrados nos alimentos e devem ser obtidos através da dieta.

A conversão de vegetais em ácido graxos é um processo metabólico complicado. Nós obtemos a maioria desses nutrientes quando ingerimos alimentos de origem animal, o que é mais fácil e menos complexo para o corpo. Já os vegetarianos precisam realizar essa metabolização a partir dos vegetais, o que é menos eficiente em termos de nutrição. As enzimas responsáveis por essa metabolização são a FADS1 e FADS2. São elas que realizam a quebra de ômega 3 e 6 para serem usados nas funções do cérebro e controle da inflamação. 
No estudo publicado essa semana pelo grupo de pesquisa da Cornell University os cientistas encontraram uma alteração genética no gene FADS2, que facilita esse processo de conversão em vegetarianos. A descoberta foi realizada ao se estudar populações de regiões da Índia e alguns locais da África onde a dieta é estritamente vegetariana por muitas gerações. 
A maioria dessas populações tem essa variação benéfica para vegetarianos. Mas, ao mesmo tempo, ela pode ser prejudicial se as pessoas que possuem tal variação exageram nas quantidades de alimentos ricos em ômega 6, principalmente os óleos vegetais, comuns na dieta ocidental.

Por isso, em alguns estudos, os vegetarianos apareciam com risco maior para desenvolvimentos de doenças cardíacas e câncer de cólon. Mais uma vez a ciência comprova que uma dieta que serve muito bem para alguns pode ser prejudicial para outros. 


Referência:
Kothapalli KSD, Ye K, Gadgil MS, et al. Positive Selection on a Regulatory Insertion-Deletion Polymorphism in FADS2 Influences Apparent Endogenous Synthesis of Arachidonic Acid. Molecular Biology and Evolution. 2016
*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com
LIA KUBELKA BACK
Mestre em biotecnologia e doutora em biologia celular e do desenvolvimento com habilitação em genética molecular humana pela UFSC. É membro da American Society of Human Genetics e do Institute for Functional Medicine. Hoje é diretora técnica do Biogenetika, centro de medicina individualizada.

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